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Irene, quando decidiu casar com Rafael, sabia que a reacção dos pais, iria ficar longe do razoável. A menos que se enganasse!. Era maior de idade e os pais sabiam que não fazia as coisas de ânimo leve. - Pode ser que entendam que se assim decidi, foi porque vi que era o melhor para mim! – Disse para si própria. Com algum optimismo, escreveu uma, longa, carta à mãe a comunicar-lhe.
Espero que esta carta os vá encontrar de saúde. Eu fico ………… rbéu …… béu .………… tenho uma novidade. Depois de muito pensar, decidi casar!.
Como sabem, a minha sorte com namorados, não tem sido a melhor. Desde traição, gozo e desrespeito, tem-me acontecido de tudo. Nestes últimos dois anos, nenhum rapaz se aproximou de mim!. É verdade que não fiz nada por isso. Dediquei-me ao trabalho e desprezei essa vertente. Perdi o contacto com os colegas e não fomentei, qualquer tipo de amizade que pudesse desencadear algo nesse sentido. Portanto, não é só a sorte, eu também sou culpada.
Entretanto as coisas mudaram. Numa acção judicial, fui designada, pela sociedade, advogada de defesa de um homem. Um homem viúvo e com mais 30 anos que eu. Simpatizamos um com o outro, no decorrer do processo, e quando a acção terminou, continuamos em contacto. Ou melhor, continuamos numa relação de pura amizade, que se desenvolveu e transformou em algo mais sério. É um autêntico cavalheiro, devo dizer-lhe!. Sempre me respeitou e …… rbéu ..……… béu …..! Conclusão: Comecei a gostar dele, gosto dele e decidi casar com ele. ….. Não pense que me deixei enganar ou embalar na conversa dele!. Não. Quem provocou a situação, fui eu!. Eu é que o tentei. ……… béu ……………… béu ……………….!. Termino com um beijinho para os dois.
A professora Barbara, não queria acreditar no que estava a ler. – Devo estar a sonhar!. – Só à quinta leitura viu a realidade. Ficou transtornada.
O marido ao entrar em casa, viu logo que ela não estava bem:
- Eh! pá!. Viste algum fantasma?. O que é que se passa?.
- Lê!. – Respondeu a esposa ao mesmo tempo que lhe entregava a carta.
O professor Manuel Gião, ficou passado. Tal como a esposa não acreditava no que estava a acontecer.
- A nossa menina a casar com um velho!. …Era só o que faltava! … Ela, só pode estar a reinar conosco!. …Não acredito nisto! – Desabafou para a esposa.
- Ao principio também pensei que fosse brincadeira dela!. … Mas, infelizmente não é!... É clara, quando diz que decidiu!. … E tu sabes, também como eu, como ela é!. … Quando decide, está decidido!.
- Não me conformo!.... O velho deu-lhe a volta!. … Só pode ser!. ... Temos de fazer alguma coisa!. … Ela não pode cometer tal loucura!.
- Eu também não me conformo!. … Mas, acho que não há nada a fazer!. … Ela até diz, que foi por iniciativa dela!. … Já viste os pontos a que chegou!.
- Isso diz ela!. … Vou a Lisboa!. … Tenho de a chamar à razão!.
Antes do marido determinar o dia que ia a Lisboa, Barbara escreveu uma carta à filha:
……………… ficamos destroçados!. …Tanta esperança que pusemos em ti. Sempre pensamos que essa noticia nos trouxesse alegria!. Afinal foi a maior das tristezas que nos destes!. ...Tanto sacrifício que fizemos!. … Vais casar com um velho?!. Quando tiveres 40 anos, divertes-te a limpar-lhe a baba?. Francamente, esperávamos mais de ti!. ……O teu pai não aceita e diz que vai aí para falar contigo!. Oxalá te consigo demover da estupidez que vais fazer!. …… béu ……… béu…………! Termino esperando que o bom senso volte à tua cabeça. Mas, toma nota: Se persistires na tua ideia, não contes conosco para nada.
Irene não ficou surpreendida. Ficou chocada!. … - Vens cá para me demover!? Só perdes o tempo e gastas dinheiro na viagem!. – Pensou Irene, quanto à vinda do pai a Lisboa.
E de facto assim foi. O pai de Irene não a conseguiu demover. A discussão foi acesa e acalorada!.
- ……... Se é isso que queres, força!. … Daí lavo as minhas mãos!. …Mas, não contes comigo nem com a tua mãe. – Disse irado ao sair de casa da filha.
O irmão não se meteu no assunto. Preferiu manter-se afastado.
Na data prevista o casamento consumou-se. Mais modesto e discreto não podia ter sido. Só estavam os noivos e os padrinhos. Os padrinhos de Irene, foram o tio Teófilo e Tia Gracinda, os únicos familiares que, embora, não vendo com bons olhos tal casamento, respeitaram a decisão da sobrinha.
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Estava casada há dois anos, quando Rui decidiu fazer o mesmo. O convite apareceu de surpresa. Ficou contente. Sempre pensou que a partir daqui as coisas melhorassem. – Para castigo bastaram dois anos de relações, quase, cortadas! – Pensou.
No dia do casamento, apresentou-se em Coimbra acompanhada pelo marido. Ninguém da família, excepto o tio Teófilo e tia Gracinda, conhecia o Rafael. Como era de esperar, causou furor a sua aparição!. Todos mantiveram uma postura digna e educadamente fizeram as apresentações!.
No entanto, Rafael causou alguma surpresa aos sogros e ao cunhado!. imaginavam um velho já curvado enrugado e, com um bocadinho de sorte, apoiado numa bengala!. Mas não!. Depararam com um homem que aparentava menos 10 anos de idade: desempenado, enérgico e se por um lado os cabelos brancos o denunciavam, por outro davam-lhe um charme especial!. … Nunca pensaram que fizessem um casal assim!. … Naquele momento a mãe arrependeu-se da atitude que tomou!. Sem o manifestar, aproximou-se mais da filha!. O pai não deu a entender nada!.
Com o casamento do Rui, os pais estavam a pensar dar uma volta às suas vidas. Aliás, já tinham decidido. Iam deixar Vale do Seixo. Já tinham ambos pedido transferência para Coimbra. A do pai já tinha sido aceite e a da mãe estava para breve. - O objectivo é ficarem perto de mim. - Informou-a o irmão.
Ao saber disto, Irene ficou contente. Procurou a mãe e manifestou a sua satisfação:
- Já sei que vêm viver para Coimbra, disse-me o Rui!. Saiba que fico contente!. … Só os dois em Vale do Seixo, acho que estavam mal!... Se, comigo, as coisas tivessem corrido de outra maneira, tinha-os convidado a ir viver para o Alentejo!. Moura não é longe da terra do pai!. Acho que ele até ia gostar!.... Mas, pronto!. Não deu não deu!. … Ficam perto do Rui. Ficam bem!. … Já agora!. Posso visitá-los?. … Por mim e o meu marido não se importa, podem ir a Moura quando quiserem!. Teria muito gosto nisso!.
- Olha filha!. Quanto a visitar-nos, podes vir quando quiseres!. Sozinha ou com o teu marido, não interessa!. O teu pai, não achará muita graça, penso eu!. … Mas, não te fecha a porta!. Quanto a irmos a Moura, nem penses!. Por mim, se calhar até ia!.... Mas o teu pai …….!. E, sozinha, também não vou.
- Respeito o que me diz!. … A partir de agora, vou-lhe escrever mais vezes!. Espero que responda!.
- Está bem!. Vou procurar responder sempre que escrevas!
O resultado foi positivo. Valeu a pena vir ao casamento do irmão. A relação com a mãe ficou melhor. Tinha esperança que com o pai viesse a acontecer o mesmo!. Mas, sabia que o pai era tanto, ou mais orgulhoso, que ela. A relação com o Rui também melhorou. Gostou da cunhada. Pareceu-lhe ser uma pessoa sensível e de carácter forte.
Regressou a Moura, com uma sensação de alívio. Sentia-se mais perto da família!.
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Nos três meses que mediaram a saída de Rafael e a consecução do divorcio, Irene pensou que seria uma óptima oportunidade de reatar em pleno com a família, isto é, com os pais e o irmão. O velho, que era o busílis, já estava longe e como ia casar com um homem da sua idade, parecia-lhe que estavam reunidas as condições.
Sem hesitação e com esperança, escreveu uma carta, cuidada, e, desta vez, dirigida ao pai.
………… passados cinco anos, reconheço que foi um erro que cometi. … O pai tinha razão!. … Acho que ainda estou a tempo de refazer a vida. Vou casar segunda vez. Agora, com um colega da minha idade, tal como era de seu gosto …… em tempos idos. Pretendo esquecer o passado e contar com a sua bênção!. Gostava que desta vez estivessem presente!. ……rbéu… … béu ……..! Termino com um beijinho para os dois.
Não era bem o que Irene sentia, mas pretendeu, desta forma, dar a volta ao pai. Não era mentirosa nem tinha hábito escamotear o que efectivamente pensava. Perdoava esta, a si própria, porque não prejudicava ninguém e podia trazer algo positivo em termos de harmonia familiar.
A resposta não tardou. Só que não foi a bem a que Irene desejava.
………foi pena teres demorado tanto, a reconhecer um erro que nunca devias ter cometido. De facto ainda vais a tempo de refazer a tua vida e seres feliz. És nova e tens uma vida inteira à tua frente!. Desejo que assim seja e tens a nossa bênção!. Quanto à nossa presença!. … Não!... Embora, ache que é um casamento mais adequado, perdeu o encanto e a magia que teria tido há cinco anos atrás! …Acho que podes contar com o Rui, se o convidares.! Termino com um beijinho.
A esperança de Irene, desvaneceu-se. – Concordo com o “encanto e magia”, mas não com a recusa ……paciência …… pelo menos tentei! – Disse alto para si própria.
Recomposta, sentou-se à secretária e redigiu o convite ao irmão.
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